Começou a época das festas, família inteira reunida, feriado de carnaval ainda nem chegou e eles já estão pensando no que fazer da páscoa. Todos me fazem a mesma pergunta: por onde você anda que não esta aqui, por onde você anda que não estará na páscoa em família. Sempre tento arrumar uma desculpa, esta trabalhando muitos, esta viajando, esta na sua casa, mas no fundo acaba sempre saindo o veredicto, não estamos mais juntos. Não gosto de falar disso, não gosto de falar de ti, foram poucos os meus amigos que te conheceram, por um lado foi bom já tenho uma fama bem grande pra eles, não quero que eles contabilizem mais uma das minhas perdas.
Teria muito trabalho pra explicar a minha família que não estamos mais juntos, na opinião deles relacionamentos foram feitos pra durarem pra sempre e na opinião dos meu amigos minha heterossexualidade foi perdida a muito tempo e qualquer tentativa com um homem é uma simples recaída de uma lésbica em crise(?) Eu poderia passar horas tentando explicar, mas é complicado, eu não entenderia se alguém me explicasse, com você foi diferente, aprendi a ver o mundo de outra forma. Seria complicado explicar o fato de me apaixonar por alguém que praticamente trabalha comigo, o fato da pessoa ser homem, o fato de ter sentido atração desde o primeiro momento em que te vi, nossas primeiras conversas, nosso primeiro encontro, nossa primeira viagem, teria que tirar as crianças da volta pra falar da nossa primeira noite naquele hotel a beira mar, o café da manhã com ar de ressaca na manhã seguinte, a crise absurda de identidade que veio na segunda-feira, a crise moralista que você teve na terça e todas as outras crises que tivemos quando parávamos pra pensar no éramos, no que estávamos tendo e no que seria daqui pra frente.
Ao meu vizinho que insistia em colocar o carro na sua vaga disse que não precisava mais se preocupar que você não andava mais de carro e a vaga podia ser dele. Ao Bernardo, filho da vizinha da frente que você sempre brincava, disse que você agora era um super herói igual ao Ben 10 e foi embora combater os alienigenas que querem dominar a Terra. Aos meus amigos que jantavam conosco toda quarta, disse que você esta em uma dieta rigorosa, só pode comer coisas especiais, pessoas especiais, acho que eles entenderam. Para minha tia disse que você achou melhor não misturar prazer e trabalho.
Ainda me sinto meio perdida, ando pela noite, falo sozinha, acordo na madrugada sentindo uma falta imensa do teu braço em volta de mim. Todos acham que com sua partida um surto depressivo tomou conta de mim, o mesmo que achavam quando Nice foi embora, dessa vez é diferente, sinto saudades de tudo que fomos, de tudo que podiamos ser mas estou bem, consigo viver, falar e trabalhar com você. A vó do Bernardo disse que devo estar me alimentando pouco, me indicou um médico. Minha mãe colocou nosso nome na folha de pedido da igreja,
Eu entendo. Muito mais do que para nós mesmos, para todas essas pessoas era importante que a gente ficasse junto, perpetuando aquela paixão inaugural que adoecia as pessoas de inveja. Éramos lindos juntos, éramos mágicos, radiantes. A última esperança que o mundo tinha de que amar é uma coisa possível e não apenas uma promessa. Fomos tão irresponsáveis com nossa paixão que esquecemos da nossa parcela de contribuição com o mundo. O tempo vai passar e as pessoas vão usar suas memórias, e para sempre nos ver como aquele inesquecível casal, mesmo que agora sejamos só amigos.
Se for voltar, volta pela minha mãe que perdeu o interesse pela cozinha desde o primeiro dia que você não apareceu pro jantar. Volta pelo meu irmão que precisa de teus conselhos furados, volta pelo Bernardo que não entende o motivo do teu sumiço. Volta pelos lírios que deixou no quintal e estão te esperando pra serem plantados. Volta porque minha vida voltou a ser bagunçada, volta porque eu misturo as camisetas de manga curta com as de manga longa, volta porque eu não sei guardar minhas calcinhas por cor.
Não faz sentido voltar só porque temos uma história, histórias eu leio em livro, eu vejo em filmes. Não volta por mim, volta por todos aqueles que torceram por nós, volta por todos aqueles que disseram que nosso gênio forte faria nosso relacionamento não dar certo. Não quero que você volte! Não por mim, eu vivo bem sem você, eu disse que viveria e você sabia que eu não estava blefando. Eu não me importo se você não voltar, vais continuar sendo a mesma pessoa. Mas minha mãe, o Bernardo, o cara da floricultura todos esses estão sentido falta de você ao meu lado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário