15.9.10

20/3/2010

Eu tive um dragão.Algumas vezes, nestas noites frias e sem nada o que fazer, penso que você poderia estar na janela enquanto fumo, vendo a fumaça que vagarosa sairia após aquela tragada funda, pensando. Sabe, nestas coisas? Nas nossas coisas. O fato que só fumo quando estou triste, muito bêbada ou gauche. Hoje estou centrado.Ando centrado na sua ausência. É verdade.


Nestas noites frias, penso que pensando em você lembrava do cacto de Bandeira:"lindo, áspero e intratável". Estar com você era difícil, sempre foi. Sempre lembro das agressividades gratuitas, dos defeitos da minha cabeça aos pés, de engolir fundo o orgulho para continuar prosseguindo. De como você conseguia ser tão dragão-monstro, labaredas queimando as paredes, tão focado nas minhas incertezas, inconstâncias.


Clarice veio numa noite destas, um trecho há muito esquecido de uma crônica linda:"Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar era fácil". Desta forma, tentei acariciar sua natureza de dragão-cacto com dedos suaves, assoprando quando me feria quase intencionalmente. De Caio ficou a capacidade de me iludir, reinventar-me com pouco, fazer dos seus momentos de dragão pacífico um idílio, canções otimistas, coisas assim.


Sempre quis que nosso amor fosse fácil, retrato daquela bossa nova mais tolinha. Daquelas coisas que queimassem com vagar e paciência. Lembro-me que, apesar dos pesares, gostava da cumplicidade. Do telefone que tocava às dez da manhã, para assuntarmos banalidades. Das mãos tão juntas num dia tépido, indo pro quadrado, ou até mesmo indo na padaria. Do ônibus que até hoje passa me mostrando que pode me deixar na esquina da tua casa.


Queria que você gostasse de mim por mim. Caótica, distraída, perigosamente despreocupada. Meio despenteada, tão preocupada com coisas vagas. Queria que você também se encantasse com minhas imperfeições, os trejeitos que nem vejo, meus vícios e virtudes. Queria te trazer para meu mundo um pouco mais abstrato.Ensinar a andar um pouco mais devagar, que a estrada vai além do que se vê.

Também queria sempre encontrar as flores em cima da mesa. Aquele sexo sem palavras depois dos nossos desentendimentos. Até dos seus momentos dragão, sacudindo meu mundo e me obrigando a ser um pouco melhor.

Sinto sua falta, principalmente nestas noites que principiam frias e me castigam com tpm, frio, e a insônia que tem sido minha companheira desde que voasse por aquela janela. E tenho quase certeza que as coisas evoluiram para nós num passo irreversível. Mas, nestas mesmas noites enquanto fumo, até me dou ao direito da ilusão: um happy-ending imaginário tipo casamento nos trópicos, talvez? Daí eu sonho, sofro, normalmente choro e finjo que nada acontece. Prometo não escrever mais (não tenho conseguido evitar), ligar pelo menos tenho cumprido. Tenho suas coisas dentro duma caixa, ainda sem coragem de botar pra fora na próxima enchente que acontecer. Mas ainda credito que em algum momento vou conseguir te arrancar daqui da minha casa, do meu coração e da minha vida.


"Hoje, acho que sei. Um dragão vem e parte para que seu mundo cresça? Pergunto - porque não estou certo - coisas talvez um tanto primárias, como: um dragão vem e parte para que você aprenda a dor de não tê-lo, depois de ter alimentado a ilusão de

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